quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

E TUDO NA NATUREZA SE REGE POR CICLOS ... Assim , o Ano Velho morreu !

   Claro que todos sabem ,  que há poucos dias , passámos a dar uma nova designação ao ano pelo qual nos regemos . Fizeram -se festas , abriram-se muitas e muitas garrafas de campanhe , estalaram foguetes em coloridos fogos de artifício... Mas , como certamente já pensaram  ,não é disso que quero falar. Aliás, a relatividade do tempo é uma das muitas em que a nossa vida se desenrola ... Na época  dos nossos antepassados , diferentes foram o quando começavam ou acabavam os anos ; os próprios anos nem sempre tiveram o mesmo número de meses ; os calendários divergiram e continuam a fazê-lo... Tudo dependeu , daquilo que os povos consideraram ou consideram ser o facto mais marcante da sua cultura , para darem início a um novo ciclo .  Desde o princípio dos tempos que o Homem reparava nos movimentos da lua e também nas alterações da posição  do sol . Começaram  ,primeiro, por dar mais atenção aos ciclos da lua . Daí que os calendários mais antigos sejam «lunares ». Assim, hebreus , egípcios , persas , ou gregos tiveram todos calendários lunares . Mas , se , por exemplo , para os Egípcios o importante eram as cheias do Nilo que condicionavam as suas actividades agrícolas  , para  os gregos era o ínício dos «jogos Olímpicos » ... Mais tarde , alguns calendários lunares tornaram-se luni -solares , como foi o caso do hebraico ou  solares como sucedeu com os gregos . Já os romanos , com o seu calendário 1º lunar , depois  solar ,  guiaram-se pela fundação de Roma e  pelo consulado de Júlio César . O calendário juliano pôs fim em 45 A. C.  ao anterior , o de Rómulo que tinha  10 meses , no ano  708 da fundação de Roma. Este manter-se -à até 24/2/1582 quando o papa Gregório XIII publicou a Bula Inter Gravissimus que punha fim à confusão reinante ,devido à adaptação feita do calendário juliano pelo Cristianismo . Com esta adaptação, podemos dizer que nos regemos por um calendário luni-solar uma fez que, há festas importantes dos cristãos, que ainda hoje são movéis devido a esse facto .
   No entanto , outros calendários houve ou há, ainda no planeta . Lembramos o do Maias , o dos Aztecas , o dos Chineses ou o dos Hindus ... E , de certeza , que outros ainda ficam por referir . Mas , entre esses  não posso deixar focar  o  dos povos lusitano e celta . Ora ,desde os tempos mais remotos da Pré-Historia que, os povos que habitaram o nosso território, nos deixaram vestígios de como prestavam atenção aos movimentos da lua e do sol.  Profundamente ligados à natureza , orientavam-se pelos ciclos lunares , mas tinham também plena consciência da importância do sol . E , desses tempos ,em que a cultura Megalítica dominou as nossas regiões  ,chegam-nos monumentos que, nos fazem ficar  boquiabertos pela maneira como , à hora certa dos solstícios  , os raios solares incidem sobre eles .
Sabemos que entre os Celtas e provavelmente entre os Lusitanos , a 31 de outubro se iniciava o ciclo em que o sol estaria «mais enfraquecido  ». Renasceria depois , no dia do solstício, próximo de 21 de dezembro para ,a pouco e pouco ir ascendendo , trazendo a esperança de dias mais longos e cheios de luz .Essa esperança de luz está simbolizada nas fogueiras acesas ,nas refeições cuidadas tomadas à volta de  mesas enfeitadas , em família ,como se o clã ou mesmo o espírito da tribo continuasse entre nós. Os símbolos solares estão por toda a parte ,não só nas luzes mas também nos bolos que são , em geral circulares . A terra e o sol   «sentam-se ,assim , à nossa mesa ». Através dos bolos e  frutos secos , como  nozes , castanhas e bolotas de azinho ,  estão  simbolizadas as sementes que germinarão à medida que a terra for recebendo o calor solar. O Sol Menino renasceria pois , para alegria de todos . Com o critianismo , o sol passou a ser o Menino Jesus e , os lusitanos cristianizados , facilmente puderam manter as suas tradições . Estas , já haviam sofrido uma primeira adaptação com a vinda dos romanos  que , nesse período , comemoravam as saturnais .
  Assim , nos estudos que fiz não encontrei qualquer relevo dado à passagem do ano . Tudo, antes , girava à volta das comemorações do início da ascensão do sol , e da preparação para o novo tempo que começava a chegar . Por isso , talvez , porque na minha infância nunca assisti a grandes festejos na minha terra , pela mudança de ano , que ainda hoje ,essa data não é para mim um dia especial . Nos locais recônditos da Beira Interior Sul , hoje também há festas , luzes e foguetes ,mas a Beira Baixa da minha infância não me ensinou tal . Que me recorde ,talvez os «senhores » da terra bailassem na «Assembleia » e os da classe média no «Clube » . .. No entanto , pelos vistos na minha família não eramos muito dados a bailes ... e acreditem , não me fizeram falta.
      
        Assim quero contar-vos como era a «Minha noite de Novo Ano »

          Era dezembro , trinta e um ...
         Á meia -noite o sino da torre bateria 
         A última badalada
         que ,sem pejo nenhum ,
         o ano velho levaria ...
         Na minha casa o silêncio reinava ...
         Eu , inda criança ,na cama aconchegada ,
         quietinha ,por esse momento ansiava ...
         A minha mãe costumava dizer :
         -«É apenas o novo ano a nascer! ,
          É só mais um !...
         O que é preciso é termos saúde para viver ...»
         Festas , nesse dia ?!...Não ! ...
         Essas tinham sido
         a vinte e cinco ...
         e havia ,
         depois , o dia seis ,
         dia de reis..,
         mais as janeiras
         que se escutavam por todas as Beiras !
         Mas eu adorava
         ficar acordada,
         para ouvir no silêncio da noite,
         na torre da igreja ,
         a última badalada .
         Lá fora ... ,sabia ,
         a noite estava fria ,
        ou seria que até nevava ?!...
        Nas ruas ,por vezes , andavam grupos de rapazes,
        folgazões , , destemidos ,audazes ,
        pois ao ano novo cantavam 
        as cançõesque ainda o Menino embalavam...
        De repente , como cortando ao meu pensamento  o fio ,
        a primeira badalada surgiu !
        Depois as outras , compassadas .
        E , com a última ,
        como se estivesse com ela sincronizada ,
        um tiro de espingarda soava ...
       Aí , a minha mãe elevava a voz e dizia : 
       «-Meninos escutaram ?
       O ti Manel já o ano velho matou ,
       o ano novo chegou !...
       Alegria generalizada !
      Um coro de bom ano pela casa  ressoava.
      Depois , a minha mãe , sempre preocupada ,
      perguntava:
      -«Estão quentinhos ?»
     Um sim , gargalhado , a tranquilizava .
     «- Então durmam...»
     Mas , meu pai ,inda acrescentava :
     - «Que deus vos abençoe , filhinhos!»
    Eu ,feliz , ...sorria .
    A ternura da noite minh'alma acalentava ...
    Adormecia ,
    Ingenuamente ,crendo que sempre assim seria ,
    sonhava....
    
        Quina Salgueiro , (escrito em Lisboa a 4/1/2011 )
    
     

        
          

         

     
     

6 comentários:

  1. Não era costume no meu tempo de rapaz, também em Proença, fazerem-se festas de passagem de ano.
    Mas sendo o dia 1 de Janeiro feriado e Dia-Santo-de-Guarda e como o Madeiro ainda ardia para aquecer as noites frias, aproveitávamos para fazer algumas petiscadas e depois, lá por volta da meia-noite, dávamos uma volta pelas ruas a cantar o Menino-Jesus!...
    Agora ficá-mo-nos pela Festa de passagem de ano...
    Aproveito para desejar um Bom 2011!...

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  2. Pois , exactamente como eu digo ,os rapazes cantavam ainda nas ruas ao Menino Jesus e ,claro , havia comes e bebes !...
    Bem haja por ter visitado o meu blog ; espero que venha mais vezes .
    Desejo-lhe igualmente um Bom Ano de 2o11...

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  3. Apesar de não me aborrecer nada, por aqui às janelas e varandas batem-se tachos, tampas, tocam-se gaitas,campainhas e afins, abre-se a garrafita de champanhe, faz-se tchim-tchim, etc.etc.
    Nessa hora poucos dirão:
    -«É apenas o novo ano a nascer! ,
    É só mais um !...
    O que é preciso é termos saúde para viver ...»

    Agradecida à sua mãe e à minha que nos ensinaram a guardar os festejos, para situações bem mais consistentes.
    Um beijo

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  4. Olá Eduarda , bem haja por mais esta sua visita . Sabe , antigamente aqui na rua onde moro em Lisboa também se apitava , batiam «testos » ou tampas de panelas, etc .... Iamos à janela ,viamos os «tocadores» passarem enquanto se bebericava o dito champanhe .(Este ano acordámos que seria com Licor Beirão ,pois estaria mais de acordo connosco!!!). Mas , como dizia havia essas manifestações ; depois desapareceram....
    No entanto em mim ficaram sempre as passagens de ano da minha infância e mesmo juventude , associadas às palavras de minha mãe e meu pai , sem esquecer o «ti Manel » , nosso vizinho e a sua maneira peculiar de o fazer!!!...
    Que tenhamos então ,todos , muita saúde ,
    Um beijo

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  5. Peço desculpa, mas leia-se:
    "Agora ficamo-nos pela Festa de passagem de ano..."

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  6. Adolfo , não tem nada que pedir desculpas ... Eu sou extremamente distraída e , de quando em quando lá me estou a enganar sem dar por isso ; Errar é humano! Continue deixando os seus comentários que muito lhe agradeço .
    Saudações raianas

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