segunda-feira, 4 de julho de 2011
sexta-feira, 3 de junho de 2011
quarta-feira, 4 de maio de 2011
E O TOQUE DO ADUFE CONTINUA A SOAR ....HÁ TANTAS ROMARIAS NESTE CONCELHO...MAS A MAIOR É A DA SRº DO ALMOTÃO
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ARA de IGAEDO (A ?) |
No entanto , foi a Senhora do Almortão ou ainda Almurtão que se tornou mais conhecida . O seu cancioneiro logo nos diz que , a sua nomeada , chegou a Lisboa , a Coimbra , ao Alentejo ... Até Zeca Afonso a cantou....e muitos outros se lhe seguiram .
A ermida situa-se em plena campina ou "campanha " de Idanha-a-Nova , numa ligeira elevação , dominando todo o espaço envolvente . A vasta e fértil campanha verdejante , irrigada pela barragem , logo dali pertelinho , que nos aparece salpicada de sobreiros e oliveiras , azinheiras ,carvalhos e até olaias , é um repouso para o coração e o espírito . Junto da ermida , como o povo diz , "corre lá sempre um arzinho " mesmo em dias de muito calor . Os idanhenses que habitam outras regiões , não vão há" terra" sem a irem visitar . Para eles, crentes ou não crentes , era como se deixassem de ir a casa de um familiar muito querido. Por isso é vê-los por lá na sua visita ,ou ouvi-los dizer : "Agora tenho de ir ver a Senhora do Almotão !"Alguém "de fora " pensaria tratar-se de uma senhora sua conhecida de longa data .. E de facto é .Todo o idanhense se habituou desde criança a tê-La no seu rol de familiares . A casa dela espera por eles e , por isso , cada um à sua maneira entra no seu "almiére " (entrada da casa ,no subdialecto da região sul interior da Beira Baixa ) e conversa com ela .
Na realidade ,este convívio vem "do mais profundo dos tempos "... Desde os tempos Pré -Históricos que o homem por aqui anda e aqui , neste local de Água Murta , prestou culto à" DEUSA-MÃE " . Depois vieram vários povos . O destaque vai neste território para a que terá sido a mais poderosa tribo lusitana ,___ a julgar pelo 1º lugar que ocupa na inscrição romana dos povos que contribuíram para a construção da ponte de Alcântara__ a dos IGAEDITANOS . Tal ponte ,como sabemos , foi levantada sobre o rio Tejo ,ligando ainda hoje Portugal e Espanha ; é considerada a maior no seu género em todo o Império Romano e foi já proposta à UNESCO para património da humanidade . Ora , esses Igaeditanos que aí surgem , prestavam culto a deuses , como Igaedus (ou seria Igaeda ?) .Por detrás da ermida ,perto da fonte de águas medicinais , foi encontrada uma ara a Igaedus que tive o enorme gosto de ver e tocar e que ,actualmente não se sabe onde pára....Dela fiz algumas reproduções ... No entanto , os Lusitanos nunca esquecerem a "Mãe".Uma certa influência Celta , ter-se-à feito ainda sentir por aqui ,apesar de esta ter sido mais presente em território que já não era pertença dos Igaeditanos . Fenícios , Egípcios , Judeus , Gregos e Romanos também calcorrearam por este território . Quase todos eles continuavam a venerar a Deusa Mãe quer ela se chamasse Arentia , Ataegina , Mitra , Cibele , Isis ou Vénus... . A História vai-nos mostrando como as minas de ouro e estanho , atraíram a esta região , mesmo povos que eram basicamente mercadores , como os 3 primeiros que citei . Vinham eles pelo porto de Cádis e pelo rio Guadiana atingindo as terras da Egitânia um pouco mais a norte . Diz-nos também a mesma ciência , que esta foi a única região da Beira Interior onde Egípcios com os seus cultos , se fixaram . E , se os judeus não veneravam a Deusa , tal não significa que como todos os outros , aqui não tenham deixado as suas influências e os seus vestígios ...Que dizer de facto do nome da Senhora se escrever de 3 maneiras diferentes ? Almotão , Almortão e Almurtão !!! Será mesmo uma palavra de origem árabe ? Não estou de acordo e acho que é tempo de ultrapassarmos a teoria que todas as palavras começadas por Al são , forçosamente árabes !!! E o Adufe que é o instrumento fundamental nas festas em sua honra ? Terá mesmo sido introduzido pelos mouros ? Creio que não , que já por aqui soava há séculos , pois há séculos já ele surgira na Suméria . Quantos mistérios por desvendar ... Com eles continuamos hoje a lidar e , entretanto , nem sequer nos lembramos que , todos estes antepassados dos idanhenses , também já fizeram a este lugar as "vesitas " que ainda hoje eles fazem . É pois este , como gosto de afirmar "um lugar sagrado vindo do mais profundo dos tempos "!!!
Se para mim a continuidade religiosa no local , é uma verdade histórica , também considero que a sua cristianização data de Suevos e Visigodos . Contudo , cristianização do lugar de Água Murta está envolta numa lenda , como sucede quase em todos os contextos semelhantes a este . Conta-se que um pastor ou uns ganhões (a estória diverge ...)um dia por ali passavam , quando viram , no meio de uma" murtêra" , algo que muito brilhava . Aproximaram-se e viram uma imagem de Nossa Senhora . Guardaram-na no" sarrão" (espécie de saco feito de pele de cabra que servia para levar a "marenda " para o trabalho ) . Levaram -na , 2º uma das versões para Monsanto , e de acordo com a outra , para Alcafozes (actualmente aldeias do concelho de Idanha-a-Nova ) . No dia seguinte , quando iam para levar a imagem para a Igreja local , não a encontraram . Foram descobri-la na mesma "murtêra" onde a viram pela 1ª vez . Juntamente com os outros populares , decidiram erguer aí aquilo a que os idanhenses chamam de "casinha caliada " .
E os idanhenses cantam ao som do adufe :
Senhora do Almurteum,
Onde" tendeis" a morada ,
ao cimo da "barronchêra " ,
numa casa caliada .
O 1º documento escrito que nos refere a Senhora , data de 1229 , do reinado de D. Sancho II É um foral dado a Idanha -a-Velha (a Egitânia ) que numa delimitação de termos diz "...Sanctam Mariam Almorton ". Tanto basta para , sem qualquer dúvida , colocar a sua romaria entre uma das mais antigas de Portugal . Mas , nem sempre esta se realizou 15 dias após a Páscoa , tendo sido 1º em Março e depois em Setembro . Só em 1922 passou , definitivamente , para a data actual . Com a Senhora celebra-.se também Santa Bárbara e S. Romão . Se S. Romão tem a festa no domingo , esta já começou sábado com o arraial . Todavia , Santa Bárbara venera-se na 3ª feira , dia destinado às pessoas que estando de luto não devem ir em nenhum dos 3 dias de festa....Esta Santa é ainda a protectora das pessoas contra os "raios das travoédas ". Por tudo isso o povo canta,mais uma vez ao som do adufe :
Senhöra do "Almurteum" ,
quem "tendeis " por companhia ,
Santa "Barbra e Sam Romeum ",
"capiteum da möraria ".
Senhöra do" Almurteum "
este ano " nã pormeto ",
que me morreu o marido ,
"nã" posso lá ir de preto .
Mas se canta ,também reza :
"Santa Barbra bindita ,
que no céu está escrita ,
com pinguinhas d'auga benta ,
livra-nos Senhori desta tromenta ."
Manda a tradição que para além da festa religiosa , composta por missa campal e procissão , haja manifestações profanas . Essas passam pelo arraial com o" fogo preso " ; pelos vários ranchos de pessoas que , ao som do adufe , cantam à vez , no "almiére " da Senhöra " ; pelas merendas que se devem comer nos campos da "Senhöra" , incluindo , obrigatoriamente , ovos verdes , caso contrário não estarão correctas por muitas coisas saborosas que integrem. É , igualmente tradição , a compra de amêndoas , de relógios de açúcar e de bolinhas de "sarradura " envoltas em pratas coloridas e com elástico ,... para brincar ...
Contudo , há ainda outros costumes que ao longo dos tempos se têm perpetuados . Entre eles está o ir buscar a Senhora para a vila se se estiver a viver um período de seca ou de muita chuva . A Senhora aparece como intermediária , junto do Alto , na resolução desses problemas .Diz a voz do povo que sempre que tal se fez , antes da Senhora entrar em Idanha-a-Nova , aí pelo lugar chamado de Senhora da Graça , a alteração do tempo pedida se realizou . Esclareço que a Imagem , pertencente ao tipo das chamadas imagens de roca , é trazida em ombros e acompanhada pelo povo em procissão , a pé , até ao seu destino . Este , começou por ser nos tempos mais antigos , a capela do solar do Conde de Idanha-a-Nova ,dedicada a S. Joaquim , o solar é em "Estilo Chão nacional " datado do início do séc. XVIII . Mais tarde a Senhora passou a ficar na Igreja Matriz , para que o povo a possa "visiteri". Ainda hoje os idanhenses que estão , constantemente , a socorrer-se da Senhora ,costumam prometer idas a pé , pela campanha fora , até à "casa caliada " . Tal hábito entrou também , nos tempos actuais , nas praxes dos calouros da Escola Superior de Gestão de Idanha-a-Nova que também Lhe doam as suas fitas , quando terminam os seus cursos .Aliás , a "benção das fitas" é realizada no santuário .
Dentro das tradições refiro , por último , a brincadeira de se dizer que dentro do cruzeiro , que antecede a entrada no terreiro , está uma velha a peneirar . Instintivamente , encosta-se a cabeça para "escuitari" !!!É então que , "ao deleve!!!" , se apanha uma cabeçada no dito cruzeiro . Era , ou ainda é o chamado "batismo " para quem aí vai pela 1ª vez .
Por fim , deixo mais um pormenor : A bandeira do Espírito Santo e a sua coroa com a pomba têm de estar sempre presentes nas festas da Senhora . Tentei saber o porquê junto dos mais velhos e mais uma vez recebi a resposta : "Já o cá encontrêmos dos nossos intigos " Está tudo dito ....da "fondura" dos tempos chegaram até nós . Anseio e desejo que os mais novos tudo isto preservem .... Que pela campanha de Idanha-a-Nova se continue a ouvir ao som do adufe : "Senhöra do Almurteum
Já cá vamos à barrêra ,
apanhari as fitas verdes,
que cairam da Bandêra ".
"Senhöra do Almurteum .
dai volta ao arraial ,
romaria como a vossa ,
não a há em Portugal "
Refrão : Olha a laranjinha
que caiu ,caiu ,
num rigato de auga
nunca mais se viu.
Nunca mais se viu ,
nem se torna a veri,
cravos há janela ,
rosas a nasceri ."
Eu ,como não estive presente ,digo à Senhora :
Senhora do Almotão,
que lindo é o Teu manto ,
cor da rosa que Tu és ,
"Arraiana ", nosso encanto ."
Nota - As imagens mais pequenas são de Santa Bárbara ,levada por mulheres vestidas de arrainas e a de S. Romão levada por rapazes. Os " Membros da Confraria da Srª do Almortão" ,levam o andor da Senhora ; uma de cada lado do andor ,estão as 2" mordomas" que estão incumbidas de vestir a Senhora.
Quanto à música tocada na "Arruéda" pela Filarmónica Idanhense .fundada em 1888 ,é o "Hino da Srª do Almortão". É tocado desde sábado de Aleluia . Aqui os idanhenses manifestam a sua alegria , acompanhando a filarmónica , em voltas que circundam a ermida , pelo menos em número de 3 . A Filarmónica conta com cerca de 60 membros que no dia 30 de Abril deste ano acompanharam ,entre outros , Janita Salomé num concerto de homenagem a Zeca Afonso .
( PS. Ainda no que diz respeito às várias romarias , acrescento que na 2º feira de Páscoa também há outra à Srª da Consolação )
BEM -HAJAM PELA VOSSA VISITA ; voltem sempre
quinta-feira, 14 de abril de 2011
sábado, 19 de março de 2011
É QUARESMA EM IDANHA-A-NOVA ...OS SINOS CALAM-SE ......AS MATRACAS RESSOAM.....
1- Sepulcro
2-Encomendação das almas
3- Bandeira das almas
4 - Procissão do Enterro
É Quaresma nas terras de Idanha -a-Nova ....A interioridade trouxe-nos pelo menos a benesse de nos conservar as tradições ... Como diz o nosso povo ,"há sempre um lado positivo em todas as coisas", ou à moda de Idanha -a-Nova ,"nem tudo é mau "! Neste caso,de que hoje falo , foi "atéi bom ".Muitos conhecem as cerimónias Pascais que na Semana Santa se fazem nalgumas regiões de Portugal e que os" média" têm divulgado. As nossas, até os ditos "média" as parecem ignorar . Só, a noite de sábado de Aleluia , já foi alvo de 1 ou 2 pequenas reportagens televisivas que nem sempre deram de nós a melhor imagem . É que na nossa Quaresma nada é encenado ou ensaiado. Os rituais são para nós naturais , passaram de pais para filhos ,ao longo dos séculos . Sabemos que algumas das suas raízes vêem da Idade Média quando os Franciscanos introduziram no ocidente o hábito de representar cenas marcantes da vida de Jesus . No entanto , a forma como todos esse ritos se desenvolvem fazem- nos pensar nos " Mistérios" ( celebrações de factos de relevo da vida dos deuses ) que já egípcios , gregos e romanos haviam realizado na Antiguidade . Esse tipo de manifestações mantiveram-se até à cristianização , passando depois a invocar passagens da vida de Jesus .
Contudo , também aqui não podemos por de parte as tradições de influência Lusitana e Celta ; elas continuam a estar presentes nestas festividades que , igualmente , celebram o fim do tempo escuro ( quaresma - quarentena -expiação-morte ) e a sua passagem para o renascimento da natureza (ressurreição - alegria -vida) . Por último , não devemos ignorar as influências judaicas que , como todos sabemos , estão presentes nas comemorações da Páscoa , isto é do "regresso do cativeiro no Egipto" e o fim da sua caminhada errática pelo deserto , durante 40 anos...
Todavia , não é esse o caminho que hoje pretendo seguir . Hoje trata-se de ouvir o som da "matraca "que substitui o dos sinos nas cerimónias Quaresmais , de Idanha-a-Nova . Ela , esse instrumento feito de madeira com argolas de ferro , "forma mais carregada de luto " no dizer de alguns historiadores , substitui o repicar dos sinos . Estes calar-se-ão, para se voltarem a ouvir quando , em sábado de Aleluia , se proclamar : "Jesus ressuscitou , alegrai-vos "! Aí , então , serão sinos , adufes , banda de música , apitos , "tchocalhos ", búzios (estes também usados no tempo da apanha da azeitona , para reunir ,de manhã cedo , o pessoal !!! ) e tudo o que fizer barulho , soará das mãos e boca dos idanhenses ; primeiro , "Matriz " adentro e depois , dando a volta à vila . Antigamente , também se cobriam , todas as imagens e janelas , de panos roxos que eram retirados nesse momento de explosão de alegria ." Roma " terá proibido tal acto ,segundo me foi dito .
Mas regressemos às quase 7 semanas de Quaresma . De facto , não é só na semana Santa que há celebrações no concelho de Idanha-a-Nova. Elas começam a seguir à 3ª feira gorda , ou seja de Carnaval. .Na 4ªfeira de Cinzas, como o nome o diz , é o dia de lembrar ao homem que "é pó" e como tal deverá penitenciar-se dos excessos anteriores , se quiser salvar a sua alma .Aqui se dá início ao tempo de expurgação que continua logo com diferentes rituais , na 6ª feira ; tal sucede por todo o concelho . Aliás , até à Semana Santa ,as celebrações repartem-se, principalmente , pelos seguintes dias : 3ªs , 6ªs e domingo ; a partir do fim -de -semana em que realiza a procissão dos Passos , há também rituais realizados ao sábado .
Na minha terra , Idanha -a-Nova , logo na primeira 6ª feira se iniciam dois actos de relevo : o" ir ver Nosso Senhor"e a "Encomendação das Almas " . Estes dois actos decorrerão até ao final da Quaresma ,todas as 6ªs feiras . O primeiro passa-se na Igreja da Misericórdia " ,( a mais antiga da vila bem junto ao castelo que os Templários e mestre Gualdim Paes mandaram construir em 1187 ); aí, todas as semanas são expostos , através de imagens , os momentos porque "Jasus " passou até à crucificação . O povo acode , todas as 6ªs feiras ,ao cair da noite ,orando . Bem perto dali , no cimo do castelo ,às 24 horas , sim à meia -noite , e também todas as 6ªs feiras ,se inicia a "Encomendação das Almas " . Mulheres vestidas de preto , à moda tradicional do "estar de luto " , isto é , com .xaile e lenço de merino. saia comprida franzida , blusa ,meias e sapatos ,tudo preto ;homens de capotes com capuz ,estes feitos de burel ; juntos , cantarão hinos suplicantes por alma dos que já partiram . Esperarão que o relógio da "Torre" , ali também "pertelinho" ,bata as 12 badaladas da meia-noite . Então , virados para a nossa terra e para o cemitério ,começarão os seus cânticos" à capela ". Concluirão , rezando e seguirão ,imediatamente , para outro ponto . Em 12 lugares se realiza este ritual , tendo sempre de ser nos pontos mais altos da vila de Idanha -a-Nova .E , se começaram pelo Castelo Templário , irão ,seguidamente , para o Castelo Velho , local onde creio ter existido um castro Lusitano . Farão ,no entanto , uma paragem ,pois a 2ª "encomendação " é junto à porta principal do cemitério que se encontra ao descer da rampa que conduz ao castelo templário .
Entoarão:
« Á porta das almas santas ,
bate Deus a toda a hora ,
o que "querendes mê Jasus"
que "querendes "Vós agora ?
Quero que venhas comigo ,
p'ro santo reino da glória .»
O que originou este ritual ? Está ele ligado ao culto dos mortos ,vindo assim , do início dos tempos ?
Só sei dizer que é arrepiante ! Aquelas vozes , ecoando na calada da noite ainda fria ,creio que tocaram , tocam e tocarão , ontem , hoje e no futuro , no âmago , no sentir mais profundo de qualquer ser humano...
. Quanto às várias terras deste extenso concelho ,seja ele o 2º ou o 3º maior do país , iniciaram também várias cerimónias . Quero , aqui referir algumas , mas meramente , a título de exemplo , como : a "Procissão Corrida " , A "Ladainha dos martírios do Senhor ",o "Terço cantado pelos homens ", A procissão dos Homens" (as mulheres só podem estar a ver passar a procissão tendo candeias ou velas acesas), " A Ceia dos 12 "," O Cântico da Verónica ", "A Via -Sacra ,de mulheres descalças "....
Se curiosidade houver , da parte de quem tiver a paciência de ler o que aqui escrevo , digo que sobre o vasto calendário que constitui a Quaresma por terras de Idanha-a-Nova , há um sítio que contém a sua agenda ; é de seu nome " Mistérios da Páscoa em Idanha 2011 ". Não correrei eu assim , o risco de esquecer nenhuma dessas celebrações .
Regressando a Idanha-a-Nova destacarei também " A Procissão dos Passos " ,com a reconstituição do encontro entre Jesus e Sua Mãe :Esta procissão , antigamente , era muito longa ,percorrendo toda a vila . Faziam-se várias paragens, não só para a reconstituição da caminhada para o Calvário , mas também devido ao peso das imagens . Era pois natural que as pessoas tivessem fome . Por isso , levava-se uma bolsinha com bolos típicos da época e que são , ainda hoje , os "borratchões , os bolos de lête , os esquecidos , os bosquetes e os broas de meli ".; a "bica de azête " que pode substituir o pão , traz-nos à memória o pão usado pelos judeus .
Realizam-se ainda "A Procissão de Domingo de Ramos" e "A Procissão do Enterro " .
Falar-vos-ei desta última ,. Nela , todas as bandeiras têm de ir deitadas em sinal de luto e os homens, que as levam assim como ao esquife do Senhor , têm de cobrir a cabeça com o capuz da " opa" preta que vestem..São os Irmãos da Misericórdia ,uma das várias confrarias que aqui subsistem .. O silêncio em que toda aquela gente caminha ,é tocante ; apenas é interrompido pela marcha fúnebre que a banda (fundada em 1888) toca de quando em quando... Também aqui tudo se passa à noite . As luzes das lanternas e tochas empunhadas pelos irmãos das confrarias assim como das velas dão ao ambiente um peso tristonho... Quando de regresso à Igreja Matriz ,depois de ter saído da Igreja da Misericórdia e feito o percurso que é habitual , surge um outro momento digno de realce---- "A deposição do Senhor no Sepulcro ".
No interior da Matriz , numa capela lateral aí existente , está "armado" o Sepulcro do Senhor . É ele enfeitado com pernadas de loureiro a que se atam ramos com laranjas e, com aquilo a que chamamos "cabeleiras " .Estas são vasos de trigo germinado no escuro( o trigo germinado fica assim quase branco ! ) e enfeitados com pétalas de flores ; contornam , juntamente com ramos de jarros brancos , a cruz negra feita no chão sobre tecido cor-de-rosa ; uma outra cruz que parece sair da que jaze , se eleva em frente ao sepulcro , sendo esta feita com jarros brancos . Mas , não pensem que tudo isto é por acaso ... ,que se podem por outros tipos de flores ou de ramos ...Não , tudo tem um simbolismo . Assim o loureiro simboliza a fertilidade ,a promessa de criação , o Homem novo e , por ser uma planta de folha perene, fala do triunfo da vida sobre a morte ; os jarros brancos são o símbolo universal da criação e por isso são também chamados lírios da paz ; as laranjas significam a imortalidade ,a fecundidade ;o rosa , do pano que cobre o chão ,lembra-nos que o túmulo de Jesus, segundo informações que vêem do séc VII , terá sido pintado com uma mistura de vermelho e branco .Simboliza regeneração ,redenção , tal como as opas , agora vermelhas ,dos Irmãos do Santíssimo que passaram a ser a "guarda " do sepulcro e que estão agora junto a ele .
Quanto ás "cabeleiras" ,pensamos terem origem em influências que remontam ao Egipto e à Pérsia da Antiguidade. No Egipto ,no dia em que se levantava antes do nascer do sol , a estrela Sirius (a nossa estrela da manhã )um sacerdote semeava trigo nas margens do Nilo ; regado pelo rio germinaria . Este era um ritual de regeneração e tinha como fim pedir aos céus o seu auxílio .Na Pérsia , fazia-se a festa do trigo germinado há 3000 anos . Perguntar-me-ão como chegaram a estas terras as influências egípcias ?! Historiadores , como por exemplo Maria da Luz Huffstot , nos afirmam que a Egitânia foi o único território , a Norte do Tejo , onde os cultos orientais penetraram . ..
Assim é pois , toda esta a carga simbólica que se desprende do sepulcro todos os anos preparado por mãos de idanhenses zelozos das suas tradições . Mesmo que lhe desconheçam o significado ou as influências vindas do mais profundo dos tempos ,sabem ,no entanto , quais os elementos que devem pôr na elaboração do"Sepulcro" ,como o sabem em relação a todos os outros rituais... Ano após ano ,de pais para filhos ,tudo o que deve ser colocado no" Sepulcro" , é transmitido . Neste , tal como em todos os outros rituais , os pormenores da sua organização está gravado no coração dos idanhenses. Dos mais idosos tento , por vezes saber o porquê deste ou daquele ritual ; pergunto o porquê de ser feito assim ....Com a sua simplicidade respondem-me : "Já cá o encontremos , dos nossos intigos , assim pous o fazemos !"....
Feita esta explicação , regressemos então à colocação de "Jasus " no Sepulcro ...
A tampa do Sepulcro é pesada ... Após o esquife ter sido aí colocado e feitas as orações , a tampa é deixada cair , ecoando por toda a Igreja ...Ouvem-se vozes , no meio daquele silêncio , dizendo : "Já está " !!! Era aí que eu não continha as lágrimas , quando era criança ... como se , a partir desse momento eu ficasse mais só ... Como se fosse o meu "terminus " ...Ainda hoje , confesso , fico de lágrimas nos olhos....
Sábado de manhã ,se o tempo estiver solarengo , é dia de por os adufes ao sol . Assim eles soarão melhor
quando ,à noite , a ALELUIA aparecer . Então será tempo de , do silêncio de 40 dias passarmos ao barulho estridente que já referi atrás . Mas ,mais ainda haverá . Recordando o renascimento da natureza e o acto partilha , após concluidas as cerimónias , o Sr. Padre dirige-se a sua casa em frente à Igreja acompanhado pelas adufeiras que já vêem cantando . As "alvíssaras " ,ou seja o acto de recompensar por boas novas trazidas , começaram com cânticos , acompanhados pelos adufes ,dentro da Igreja Matriz ;.continuarão depois , como o prova o que descreverei . Aqui fica uma quadra das "alvíssaras "entoadas :
"Já aparceu aleluia ,
quem achou quem acharia ,
foi o senhor vigairo ,
no sacrário de Maria "
Entretanto , a banda que já percorreu a vila , toca aquilo a que chamamos de "Aleluia ", mas que é o hino da Srª do Almotão . Ela , a banda , e todos os que a acompanharam estão de regresso ao Largo do Adro ." Adufêras e Musêcos " entram na casa do Senhor Padre para comerem e beberem... . Depois de os acomodar , o Sr Padre dirige-se à janela... Tem , junto dele, muitos quilos de amêndoas em pequenos pacotes ,dados pelos comerciantes da terra . Frente à casa e já de costas para o edifício da Matriz , o amplo adro está completamente cheio ...O povo espera ,os jovens deliram...Põem-se mesmo "às cochichas " (cavalitas ) uns dos outros ....A alegria é contagiante ... Todos estão felizes e acreditam que essas amêndoas lhes darão sorte !!!É pois , preciso apanhá-las , disputá-las mesmo ...Assim se faz , assim se fará ...
Os pacotes de amêndoas começam a "voar"... e cada um tenta apanhar os que pode ...,assim é com a sorte , ao fim e ao cabo ....
Ali , ao lado , na Praça da República as mesas estão postas ; há vinho pão e "tchouriço " para " partilhar e recompensar " todos . Caso deseje uma recordação , pode adquirir uma caneca de barro para beber o vinho que quiser . Mas se não comprar há sempre um copo ... Cumpre-se a tradição : após o recolhimento é preciso festejar , partilhar ... comendo os "tchouriços " que desde a "matação " se guardaram para esse dia . . A Junta de Freguesia oferece ...Vários restaurantes e cafés fazem o mesmo...Antigamente ,só os rapazes comiam o petisco nas tabernas ... Agora a festa é mais de todos ...e toda a noite se ouvirão os apitos e os "tchocalhos" o búzio ( trazido talvez há séculos por algum idanhense que regressou de fainas marítimas...) enquanto se começa já , como sucedera na Igreja , a cantar à Senhora do Almotão :
Srª do Almotão ,
minha tã linda arraiana
volta as costas a Castela
nã queras ser castelhana ."
Assim se cumprem ,uma vez mais , as tradições " vindas do fundo dos tempos "... Delas , tentei dar uma brevíssima ideia ... Levaria muito tempo se todas quisesse narrar ... Mas comigo há uma esperança : que os mais novos continuem a preservar toda esta riqueza ...Acredito neles ....e que a UNESCO nos anuncie ,brevemente , o reconhecimento de que elas são : .PATRIMÓNIO IMATERIAL DA HUMANIDADE ....
PS---O rituais daQuaresma ,em todo o concelho de Idanha-a-Nova ,são mais de 200...
2-Encomendação das almas
3- Bandeira das almas
É Quaresma nas terras de Idanha -a-Nova ....A interioridade trouxe-nos pelo menos a benesse de nos conservar as tradições ... Como diz o nosso povo ,"há sempre um lado positivo em todas as coisas", ou à moda de Idanha -a-Nova ,"nem tudo é mau "! Neste caso,de que hoje falo , foi "atéi bom ".Muitos conhecem as cerimónias Pascais que na Semana Santa se fazem nalgumas regiões de Portugal e que os" média" têm divulgado. As nossas, até os ditos "média" as parecem ignorar . Só, a noite de sábado de Aleluia , já foi alvo de 1 ou 2 pequenas reportagens televisivas que nem sempre deram de nós a melhor imagem . É que na nossa Quaresma nada é encenado ou ensaiado. Os rituais são para nós naturais , passaram de pais para filhos ,ao longo dos séculos . Sabemos que algumas das suas raízes vêem da Idade Média quando os Franciscanos introduziram no ocidente o hábito de representar cenas marcantes da vida de Jesus . No entanto , a forma como todos esse ritos se desenvolvem fazem- nos pensar nos " Mistérios" ( celebrações de factos de relevo da vida dos deuses ) que já egípcios , gregos e romanos haviam realizado na Antiguidade . Esse tipo de manifestações mantiveram-se até à cristianização , passando depois a invocar passagens da vida de Jesus .
Contudo , também aqui não podemos por de parte as tradições de influência Lusitana e Celta ; elas continuam a estar presentes nestas festividades que , igualmente , celebram o fim do tempo escuro ( quaresma - quarentena -expiação-morte ) e a sua passagem para o renascimento da natureza (ressurreição - alegria -vida) . Por último , não devemos ignorar as influências judaicas que , como todos sabemos , estão presentes nas comemorações da Páscoa , isto é do "regresso do cativeiro no Egipto" e o fim da sua caminhada errática pelo deserto , durante 40 anos...
Todavia , não é esse o caminho que hoje pretendo seguir . Hoje trata-se de ouvir o som da "matraca "que substitui o dos sinos nas cerimónias Quaresmais , de Idanha-a-Nova . Ela , esse instrumento feito de madeira com argolas de ferro , "forma mais carregada de luto " no dizer de alguns historiadores , substitui o repicar dos sinos . Estes calar-se-ão, para se voltarem a ouvir quando , em sábado de Aleluia , se proclamar : "Jesus ressuscitou , alegrai-vos "! Aí , então , serão sinos , adufes , banda de música , apitos , "tchocalhos ", búzios (estes também usados no tempo da apanha da azeitona , para reunir ,de manhã cedo , o pessoal !!! ) e tudo o que fizer barulho , soará das mãos e boca dos idanhenses ; primeiro , "Matriz " adentro e depois , dando a volta à vila . Antigamente , também se cobriam , todas as imagens e janelas , de panos roxos que eram retirados nesse momento de explosão de alegria ." Roma " terá proibido tal acto ,segundo me foi dito .
Mas regressemos às quase 7 semanas de Quaresma . De facto , não é só na semana Santa que há celebrações no concelho de Idanha-a-Nova. Elas começam a seguir à 3ª feira gorda , ou seja de Carnaval. .Na 4ªfeira de Cinzas, como o nome o diz , é o dia de lembrar ao homem que "é pó" e como tal deverá penitenciar-se dos excessos anteriores , se quiser salvar a sua alma .Aqui se dá início ao tempo de expurgação que continua logo com diferentes rituais , na 6ª feira ; tal sucede por todo o concelho . Aliás , até à Semana Santa ,as celebrações repartem-se, principalmente , pelos seguintes dias : 3ªs , 6ªs e domingo ; a partir do fim -de -semana em que realiza a procissão dos Passos , há também rituais realizados ao sábado .
Na minha terra , Idanha -a-Nova , logo na primeira 6ª feira se iniciam dois actos de relevo : o" ir ver Nosso Senhor"e a "Encomendação das Almas " . Estes dois actos decorrerão até ao final da Quaresma ,todas as 6ªs feiras . O primeiro passa-se na Igreja da Misericórdia " ,( a mais antiga da vila bem junto ao castelo que os Templários e mestre Gualdim Paes mandaram construir em 1187 ); aí, todas as semanas são expostos , através de imagens , os momentos porque "Jasus " passou até à crucificação . O povo acode , todas as 6ªs feiras ,ao cair da noite ,orando . Bem perto dali , no cimo do castelo ,às 24 horas , sim à meia -noite , e também todas as 6ªs feiras ,se inicia a "Encomendação das Almas " . Mulheres vestidas de preto , à moda tradicional do "estar de luto " , isto é , com .xaile e lenço de merino. saia comprida franzida , blusa ,meias e sapatos ,tudo preto ;homens de capotes com capuz ,estes feitos de burel ; juntos , cantarão hinos suplicantes por alma dos que já partiram . Esperarão que o relógio da "Torre" , ali também "pertelinho" ,bata as 12 badaladas da meia-noite . Então , virados para a nossa terra e para o cemitério ,começarão os seus cânticos" à capela ". Concluirão , rezando e seguirão ,imediatamente , para outro ponto . Em 12 lugares se realiza este ritual , tendo sempre de ser nos pontos mais altos da vila de Idanha -a-Nova .E , se começaram pelo Castelo Templário , irão ,seguidamente , para o Castelo Velho , local onde creio ter existido um castro Lusitano . Farão ,no entanto , uma paragem ,pois a 2ª "encomendação " é junto à porta principal do cemitério que se encontra ao descer da rampa que conduz ao castelo templário .
Entoarão:
« Á porta das almas santas ,
bate Deus a toda a hora ,
o que "querendes mê Jasus"
que "querendes "Vós agora ?
Quero que venhas comigo ,
p'ro santo reino da glória .»
O que originou este ritual ? Está ele ligado ao culto dos mortos ,vindo assim , do início dos tempos ?
Só sei dizer que é arrepiante ! Aquelas vozes , ecoando na calada da noite ainda fria ,creio que tocaram , tocam e tocarão , ontem , hoje e no futuro , no âmago , no sentir mais profundo de qualquer ser humano...
. Quanto às várias terras deste extenso concelho ,seja ele o 2º ou o 3º maior do país , iniciaram também várias cerimónias . Quero , aqui referir algumas , mas meramente , a título de exemplo , como : a "Procissão Corrida " , A "Ladainha dos martírios do Senhor ",o "Terço cantado pelos homens ", A procissão dos Homens" (as mulheres só podem estar a ver passar a procissão tendo candeias ou velas acesas), " A Ceia dos 12 "," O Cântico da Verónica ", "A Via -Sacra ,de mulheres descalças "....
Se curiosidade houver , da parte de quem tiver a paciência de ler o que aqui escrevo , digo que sobre o vasto calendário que constitui a Quaresma por terras de Idanha-a-Nova , há um sítio que contém a sua agenda ; é de seu nome " Mistérios da Páscoa em Idanha 2011 ". Não correrei eu assim , o risco de esquecer nenhuma dessas celebrações .
Regressando a Idanha-a-Nova destacarei também " A Procissão dos Passos " ,com a reconstituição do encontro entre Jesus e Sua Mãe :Esta procissão , antigamente , era muito longa ,percorrendo toda a vila . Faziam-se várias paragens, não só para a reconstituição da caminhada para o Calvário , mas também devido ao peso das imagens . Era pois natural que as pessoas tivessem fome . Por isso , levava-se uma bolsinha com bolos típicos da época e que são , ainda hoje , os "borratchões , os bolos de lête , os esquecidos , os bosquetes e os broas de meli ".; a "bica de azête " que pode substituir o pão , traz-nos à memória o pão usado pelos judeus .
Realizam-se ainda "A Procissão de Domingo de Ramos" e "A Procissão do Enterro " .
Falar-vos-ei desta última ,. Nela , todas as bandeiras têm de ir deitadas em sinal de luto e os homens, que as levam assim como ao esquife do Senhor , têm de cobrir a cabeça com o capuz da " opa" preta que vestem..São os Irmãos da Misericórdia ,uma das várias confrarias que aqui subsistem .. O silêncio em que toda aquela gente caminha ,é tocante ; apenas é interrompido pela marcha fúnebre que a banda (fundada em 1888) toca de quando em quando... Também aqui tudo se passa à noite . As luzes das lanternas e tochas empunhadas pelos irmãos das confrarias assim como das velas dão ao ambiente um peso tristonho... Quando de regresso à Igreja Matriz ,depois de ter saído da Igreja da Misericórdia e feito o percurso que é habitual , surge um outro momento digno de realce---- "A deposição do Senhor no Sepulcro ".
No interior da Matriz , numa capela lateral aí existente , está "armado" o Sepulcro do Senhor . É ele enfeitado com pernadas de loureiro a que se atam ramos com laranjas e, com aquilo a que chamamos "cabeleiras " .Estas são vasos de trigo germinado no escuro( o trigo germinado fica assim quase branco ! ) e enfeitados com pétalas de flores ; contornam , juntamente com ramos de jarros brancos , a cruz negra feita no chão sobre tecido cor-de-rosa ; uma outra cruz que parece sair da que jaze , se eleva em frente ao sepulcro , sendo esta feita com jarros brancos . Mas , não pensem que tudo isto é por acaso ... ,que se podem por outros tipos de flores ou de ramos ...Não , tudo tem um simbolismo . Assim o loureiro simboliza a fertilidade ,a promessa de criação , o Homem novo e , por ser uma planta de folha perene, fala do triunfo da vida sobre a morte ; os jarros brancos são o símbolo universal da criação e por isso são também chamados lírios da paz ; as laranjas significam a imortalidade ,a fecundidade ;o rosa , do pano que cobre o chão ,lembra-nos que o túmulo de Jesus, segundo informações que vêem do séc VII , terá sido pintado com uma mistura de vermelho e branco .Simboliza regeneração ,redenção , tal como as opas , agora vermelhas ,dos Irmãos do Santíssimo que passaram a ser a "guarda " do sepulcro e que estão agora junto a ele .
Quanto ás "cabeleiras" ,pensamos terem origem em influências que remontam ao Egipto e à Pérsia da Antiguidade. No Egipto ,no dia em que se levantava antes do nascer do sol , a estrela Sirius (a nossa estrela da manhã )um sacerdote semeava trigo nas margens do Nilo ; regado pelo rio germinaria . Este era um ritual de regeneração e tinha como fim pedir aos céus o seu auxílio .Na Pérsia , fazia-se a festa do trigo germinado há 3000 anos . Perguntar-me-ão como chegaram a estas terras as influências egípcias ?! Historiadores , como por exemplo Maria da Luz Huffstot , nos afirmam que a Egitânia foi o único território , a Norte do Tejo , onde os cultos orientais penetraram . ..
Assim é pois , toda esta a carga simbólica que se desprende do sepulcro todos os anos preparado por mãos de idanhenses zelozos das suas tradições . Mesmo que lhe desconheçam o significado ou as influências vindas do mais profundo dos tempos ,sabem ,no entanto , quais os elementos que devem pôr na elaboração do"Sepulcro" ,como o sabem em relação a todos os outros rituais... Ano após ano ,de pais para filhos ,tudo o que deve ser colocado no" Sepulcro" , é transmitido . Neste , tal como em todos os outros rituais , os pormenores da sua organização está gravado no coração dos idanhenses. Dos mais idosos tento , por vezes saber o porquê deste ou daquele ritual ; pergunto o porquê de ser feito assim ....Com a sua simplicidade respondem-me : "Já cá o encontremos , dos nossos intigos , assim pous o fazemos !"....
Feita esta explicação , regressemos então à colocação de "Jasus " no Sepulcro ...
A tampa do Sepulcro é pesada ... Após o esquife ter sido aí colocado e feitas as orações , a tampa é deixada cair , ecoando por toda a Igreja ...Ouvem-se vozes , no meio daquele silêncio , dizendo : "Já está " !!! Era aí que eu não continha as lágrimas , quando era criança ... como se , a partir desse momento eu ficasse mais só ... Como se fosse o meu "terminus " ...Ainda hoje , confesso , fico de lágrimas nos olhos....
Sábado de manhã ,se o tempo estiver solarengo , é dia de por os adufes ao sol . Assim eles soarão melhor
quando ,à noite , a ALELUIA aparecer . Então será tempo de , do silêncio de 40 dias passarmos ao barulho estridente que já referi atrás . Mas ,mais ainda haverá . Recordando o renascimento da natureza e o acto partilha , após concluidas as cerimónias , o Sr. Padre dirige-se a sua casa em frente à Igreja acompanhado pelas adufeiras que já vêem cantando . As "alvíssaras " ,ou seja o acto de recompensar por boas novas trazidas , começaram com cânticos , acompanhados pelos adufes ,dentro da Igreja Matriz ;.continuarão depois , como o prova o que descreverei . Aqui fica uma quadra das "alvíssaras "entoadas :
"Já aparceu aleluia ,
quem achou quem acharia ,
foi o senhor vigairo ,
no sacrário de Maria "
Entretanto , a banda que já percorreu a vila , toca aquilo a que chamamos de "Aleluia ", mas que é o hino da Srª do Almotão . Ela , a banda , e todos os que a acompanharam estão de regresso ao Largo do Adro ." Adufêras e Musêcos " entram na casa do Senhor Padre para comerem e beberem... . Depois de os acomodar , o Sr Padre dirige-se à janela... Tem , junto dele, muitos quilos de amêndoas em pequenos pacotes ,dados pelos comerciantes da terra . Frente à casa e já de costas para o edifício da Matriz , o amplo adro está completamente cheio ...O povo espera ,os jovens deliram...Põem-se mesmo "às cochichas " (cavalitas ) uns dos outros ....A alegria é contagiante ... Todos estão felizes e acreditam que essas amêndoas lhes darão sorte !!!É pois , preciso apanhá-las , disputá-las mesmo ...Assim se faz , assim se fará ...
Os pacotes de amêndoas começam a "voar"... e cada um tenta apanhar os que pode ...,assim é com a sorte , ao fim e ao cabo ....
Ali , ao lado , na Praça da República as mesas estão postas ; há vinho pão e "tchouriço " para " partilhar e recompensar " todos . Caso deseje uma recordação , pode adquirir uma caneca de barro para beber o vinho que quiser . Mas se não comprar há sempre um copo ... Cumpre-se a tradição : após o recolhimento é preciso festejar , partilhar ... comendo os "tchouriços " que desde a "matação " se guardaram para esse dia . . A Junta de Freguesia oferece ...Vários restaurantes e cafés fazem o mesmo...Antigamente ,só os rapazes comiam o petisco nas tabernas ... Agora a festa é mais de todos ...e toda a noite se ouvirão os apitos e os "tchocalhos" o búzio ( trazido talvez há séculos por algum idanhense que regressou de fainas marítimas...) enquanto se começa já , como sucedera na Igreja , a cantar à Senhora do Almotão :
Srª do Almotão ,
minha tã linda arraiana
volta as costas a Castela
nã queras ser castelhana ."
Assim se cumprem ,uma vez mais , as tradições " vindas do fundo dos tempos "... Delas , tentei dar uma brevíssima ideia ... Levaria muito tempo se todas quisesse narrar ... Mas comigo há uma esperança : que os mais novos continuem a preservar toda esta riqueza ...Acredito neles ....e que a UNESCO nos anuncie ,brevemente , o reconhecimento de que elas são : .PATRIMÓNIO IMATERIAL DA HUMANIDADE ....
PS---O rituais daQuaresma ,em todo o concelho de Idanha-a-Nova ,são mais de 200...
sexta-feira, 4 de março de 2011
" Ó Entrudo , ó Entrudo , ó Entrudo Chocalheiro " ..... assim cantava Zeca Afonso ,.....
Sim ,é do "Intrudo Tchocalhêro "das terras perdidas....mas também ignoradas por muitos , das tais que são restos da velha Lusitânia mas , que poucos sabem que continuam a existir e a persistir, que hoje quero falar .
Quero falar desse: "Ó Intrudo ,ó Intrudo,
ó IntrudoTchocalhêro
que nã dêxas assintari
as velhas ao soalhêro."
Quero falar de algo que nada tem a ver com o que entendemos hoje por "Entrudo " ou o chamado Carnaval.
Quero contar-vos como era esse Intrudo da minha infância , da minha adolescência , para que não se vá na voragem dos tempos....
Mais uma vez ,temos de ir muito atrás , reencontrar Lusitanos , Celtas e Romanos que entre Fevereiro e Maio celebravam o fim do Inverno e o início do Verão . O recolhimento do Inverno estava a chegar ao seu terminus ,para dar lugar ao tempo do renascer . E , se a Candelária começara já a anunciar essa mudança o Intrudo dizia-nos que estávamos à sua porta . A palavra "Intrudo" ,como se diz nas terras de Idanha , significa" Introito" ou seja "Entrada ". Daí virá , creio , Entrudo . Quanto ao "tchocalhêro " que pode fazer lembrar "chocalho " tem aqui outro significado ; quer ele dizer "período de brincadeira ou também ,pessoa brincalhona ". Estamos , pois, num período em que se deve brincar , festejar a aproximação do fim do tempo tristonho e ,simultaneamente , lembrarmo-nos que iremos entrar num outro de recolhimento , de preparação para a ressurreição de toda a natureza . Esse será a Quaresma , a quarentena ,que nos levará ao fim das trevas do Inverno . É pois , um rito de passagem do tempo velho para o tempo novo ,é a despedida da noite e o acolher da Primavera , é a chegada da renovação da Mãe Natureza .
Os romanos ,que lhe chamaram Carnaval , faziam desta época ,um período de subversão da ordem estabelecida . Após a Cristianização,na Idade Média , dizia-se que ,nesse período o mundo ficava às avessas e que o diabo andava à solta que as máscaras representavam as almas dos mortos que apelavam à vida .Diz-se ,por isso ,que a palavra Carnaval significará -a carne nada vale ,"carne levare ".
Mas regressemos ao Intrudo . Entre o Natal e a Quaresma ,faziam-se na minha terra "Os Jogos" sempre que o tempo o permitia .Eram danças de rua , rodas de rapazes e raparigas nas tardes solarengas de domingo ; nos Largos da vila como o de S:João , o do Espírito Santo ou Jardim , o da Estrada Nova e o do Alto Ferreiro , cantava-se e dançava-se e recordo ainda um desses cantares :
" Siga a roda ,siga a roda
qu'eu tameim lá quero ir,
eu sou rapariga nova ,
quero m'ir adevertir.
Refrão : Sã tã benitas ,
sã benitas são,
vêm d'Alcafozis
a venderi carvão.
Ó que lindo rancho,
tem a mocidadi ,
cantai raparigas ,
à vossa vontadi ."
( Mais tarde aprendi que o último verso era "viva a liberdade "! ...mas , naqueles tempos tinha de ser diferente ,pois a palavra "liberdade" era subversiva :)
No Intrudo havia a destacar : a 5ª feira das Comadres , o domingo magro , a 5ª feira dos compadres , o domingo gordo e a 3º feira de Intrudo . Na 5ª feira das comadres , ( antes do domingo magro ) ,as raparigas solteiras reuniam-se ,num rito preparatório já do tempo novo , e escreviam em papelinhos os nomes dos rapazes . Depois, cada uma tirava um papelinho, ficando a saber o nome do seu compadre. Na 5ªfeira seguinte , "a dos compadres", os rapazes ficavam a saber quem era a "moça " a quem deveriam ofertar no domingo de Páscoa as amêndoas ; ela agradeceria com a oferta de um lenço , uma gravata ,etc ; tudo dependia das posses de cada uma . Muitas vezes estes "compadrios" acabavam em noivados e casamentos.
No Domingo Magro iniciava-se a preparação para o jejum quaresmal e , portanto , nesse domingo não se comia carne . Mas ,no Domingo Gordo era o contrário ; era um dos dias e que se comia ,não só carne mas ,alguns dos "tchouriços " guardados especialmente para ele . Os outros ficavam para comer no sábado de Aleluia .Mas , Domingo Gordo era o dia de todos os excessos alimentares que iriam até 3ªfeira à meia-noite Ora , este domingo marcava o início dos festejos . As raparigas vestiam os seus trajes de "Arraianas " e com ele se passeavam , dançavam nas rodas e nos bailes , acompanhadas pelo toque das concertinas e debaixo dos olhares protectores das mães..Lembro-me ainda de mim , criança , orgulhosa no meu traje de arraina ... Agora , quero lembrar as "caquédas "(cacadas) que muito arreliavam as mulheres da Idanha . Consistiam elas em atirar, pelas escadas acima das casas ou na sua entrada ,vasilhas de barro contendo bugalhos , latas e outros pequenos objectos barulhentos . Claro que a dita vasilha se partia ,sendo acompanhada duma grande barulheira . A dona da casa ,face ao ruído , corria para ver quem eram os malvados que lhe haviam"sujédo o seu almiére "... Mas ,eles ,normalmente já se haviam escapulido ,restando à dona da casa soltar algumas imprecações e limpar a entrada.. .Devo ainda acrescentar que a vasilha de barro , era normalmente roubada a outro vizinho ,sendo muitas vezes um vaso que ainda continha restos de terra .As partidas eram ,regra geral , levadas acabo pelos rapazes e as piores "caquédas " destinavam-se a pessoas de quem não se gostava muito . Na 3ª feira bailava-se nas ruas, as mulheres mais velhas cantavam ,atiravam-se serpentinas , pregava-se sustos às pessoas mas , antes da meia -noite, tudo tinha de parar . Havia que limpar os sinais dos folguedos ,pois tal já não seria possível , após as 12 badaladas do sino da torre da Igreja . Tal seria pecado ,porque havíamos entrado na Quaresma . Agora ,havia que pensar em ir à missa das cinzas ,recebê-las sobre a testa em forma de cruz e ouvir dizer : "lembra-te ó homem que és pó e em pó te hás-de tornar "...As festas só voltarão quarenta dias depois ,com a Aleluia que aqui lhes digo ,é diferente da de todo o país... O mesmo se passa com a nossa Quaresma . Pelo concelho fora há cerimónias únicas ,ao longo do tempo quaresmal , actos espontâneos que ficaram connosco ao longo dos séculos ,que passaram de geração em geração e que são feitos de todo esse saber , não havendo qualquer tipo de encenação .Por isso mesmo , pela sua riqueza histórico-religiosa , eles estão já neste momento na Unesco e em vias de serem reconhecidos como património imaterial da humanidade.
Assim é a minha terra ,essa de que me permito afirmar como Nuno Villamariz Oliveira : "Lugar onde se respira o ritmo incessante das paisagens, ora secas , ora verdes de luz , como se aqui batesse O CORAÇÃO DE TODA A BEIRA BAIXA...."ou como muitas vezes Paulo Loução lhe chama :
"terra de Mistérios"...
P.S.- O trajo de "Arraiana " é colorido ; saiote de lã de cor viva ,plissado ,com listas pretas em baixo , formando uma barra ; na cintura a sacola de lentejoulas e bordados ,é usada do lado esquerdo e o avental preto bordado ; a blusa branca com rendas e bordados ; o xaile , normalmente de cor preta , é estampado ou bordado a fio de seda , com ramagens coloridas ; pode , no entanto, ter outra cor de acordo com a saia , cruza-se sobre o peito e , passando por baixo dos braços , ata-se atrás na cintura ; os sapatos são pretos ,as meias brancas e rendadas . Contrariamente ao que sucede noutras terras do concelho ,em Idanha -a-Nova não se usa , regra geral , lenço na cabeça e a blusa tem de ser sempre branca .
BEM-HAJAM todos pela vossa visita ..
Quero falar desse: "Ó Intrudo ,ó Intrudo,
ó IntrudoTchocalhêro
que nã dêxas assintari
as velhas ao soalhêro."
Quero falar de algo que nada tem a ver com o que entendemos hoje por "Entrudo " ou o chamado Carnaval.
Quero contar-vos como era esse Intrudo da minha infância , da minha adolescência , para que não se vá na voragem dos tempos....
Mais uma vez ,temos de ir muito atrás , reencontrar Lusitanos , Celtas e Romanos que entre Fevereiro e Maio celebravam o fim do Inverno e o início do Verão . O recolhimento do Inverno estava a chegar ao seu terminus ,para dar lugar ao tempo do renascer . E , se a Candelária começara já a anunciar essa mudança o Intrudo dizia-nos que estávamos à sua porta . A palavra "Intrudo" ,como se diz nas terras de Idanha , significa" Introito" ou seja "Entrada ". Daí virá , creio , Entrudo . Quanto ao "tchocalhêro " que pode fazer lembrar "chocalho " tem aqui outro significado ; quer ele dizer "período de brincadeira ou também ,pessoa brincalhona ". Estamos , pois, num período em que se deve brincar , festejar a aproximação do fim do tempo tristonho e ,simultaneamente , lembrarmo-nos que iremos entrar num outro de recolhimento , de preparação para a ressurreição de toda a natureza . Esse será a Quaresma , a quarentena ,que nos levará ao fim das trevas do Inverno . É pois , um rito de passagem do tempo velho para o tempo novo ,é a despedida da noite e o acolher da Primavera , é a chegada da renovação da Mãe Natureza .
Os romanos ,que lhe chamaram Carnaval , faziam desta época ,um período de subversão da ordem estabelecida . Após a Cristianização,na Idade Média , dizia-se que ,nesse período o mundo ficava às avessas e que o diabo andava à solta que as máscaras representavam as almas dos mortos que apelavam à vida .Diz-se ,por isso ,que a palavra Carnaval significará -a carne nada vale ,"carne levare ".
Mas regressemos ao Intrudo . Entre o Natal e a Quaresma ,faziam-se na minha terra "Os Jogos" sempre que o tempo o permitia .Eram danças de rua , rodas de rapazes e raparigas nas tardes solarengas de domingo ; nos Largos da vila como o de S:João , o do Espírito Santo ou Jardim , o da Estrada Nova e o do Alto Ferreiro , cantava-se e dançava-se e recordo ainda um desses cantares :
" Siga a roda ,siga a roda
qu'eu tameim lá quero ir,
eu sou rapariga nova ,
quero m'ir adevertir.
Refrão : Sã tã benitas ,
sã benitas são,
vêm d'Alcafozis
a venderi carvão.
Ó que lindo rancho,
tem a mocidadi ,
cantai raparigas ,
à vossa vontadi ."
( Mais tarde aprendi que o último verso era "viva a liberdade "! ...mas , naqueles tempos tinha de ser diferente ,pois a palavra "liberdade" era subversiva :)
No Intrudo havia a destacar : a 5ª feira das Comadres , o domingo magro , a 5ª feira dos compadres , o domingo gordo e a 3º feira de Intrudo . Na 5ª feira das comadres , ( antes do domingo magro ) ,as raparigas solteiras reuniam-se ,num rito preparatório já do tempo novo , e escreviam em papelinhos os nomes dos rapazes . Depois, cada uma tirava um papelinho, ficando a saber o nome do seu compadre. Na 5ªfeira seguinte , "a dos compadres", os rapazes ficavam a saber quem era a "moça " a quem deveriam ofertar no domingo de Páscoa as amêndoas ; ela agradeceria com a oferta de um lenço , uma gravata ,etc ; tudo dependia das posses de cada uma . Muitas vezes estes "compadrios" acabavam em noivados e casamentos.
No Domingo Magro iniciava-se a preparação para o jejum quaresmal e , portanto , nesse domingo não se comia carne . Mas ,no Domingo Gordo era o contrário ; era um dos dias e que se comia ,não só carne mas ,alguns dos "tchouriços " guardados especialmente para ele . Os outros ficavam para comer no sábado de Aleluia .Mas , Domingo Gordo era o dia de todos os excessos alimentares que iriam até 3ªfeira à meia-noite Ora , este domingo marcava o início dos festejos . As raparigas vestiam os seus trajes de "Arraianas " e com ele se passeavam , dançavam nas rodas e nos bailes , acompanhadas pelo toque das concertinas e debaixo dos olhares protectores das mães..Lembro-me ainda de mim , criança , orgulhosa no meu traje de arraina ... Agora , quero lembrar as "caquédas "(cacadas) que muito arreliavam as mulheres da Idanha . Consistiam elas em atirar, pelas escadas acima das casas ou na sua entrada ,vasilhas de barro contendo bugalhos , latas e outros pequenos objectos barulhentos . Claro que a dita vasilha se partia ,sendo acompanhada duma grande barulheira . A dona da casa ,face ao ruído , corria para ver quem eram os malvados que lhe haviam"sujédo o seu almiére "... Mas ,eles ,normalmente já se haviam escapulido ,restando à dona da casa soltar algumas imprecações e limpar a entrada.. .Devo ainda acrescentar que a vasilha de barro , era normalmente roubada a outro vizinho ,sendo muitas vezes um vaso que ainda continha restos de terra .As partidas eram ,regra geral , levadas acabo pelos rapazes e as piores "caquédas " destinavam-se a pessoas de quem não se gostava muito . Na 3ª feira bailava-se nas ruas, as mulheres mais velhas cantavam ,atiravam-se serpentinas , pregava-se sustos às pessoas mas , antes da meia -noite, tudo tinha de parar . Havia que limpar os sinais dos folguedos ,pois tal já não seria possível , após as 12 badaladas do sino da torre da Igreja . Tal seria pecado ,porque havíamos entrado na Quaresma . Agora ,havia que pensar em ir à missa das cinzas ,recebê-las sobre a testa em forma de cruz e ouvir dizer : "lembra-te ó homem que és pó e em pó te hás-de tornar "...As festas só voltarão quarenta dias depois ,com a Aleluia que aqui lhes digo ,é diferente da de todo o país... O mesmo se passa com a nossa Quaresma . Pelo concelho fora há cerimónias únicas ,ao longo do tempo quaresmal , actos espontâneos que ficaram connosco ao longo dos séculos ,que passaram de geração em geração e que são feitos de todo esse saber , não havendo qualquer tipo de encenação .Por isso mesmo , pela sua riqueza histórico-religiosa , eles estão já neste momento na Unesco e em vias de serem reconhecidos como património imaterial da humanidade.
Assim é a minha terra ,essa de que me permito afirmar como Nuno Villamariz Oliveira : "Lugar onde se respira o ritmo incessante das paisagens, ora secas , ora verdes de luz , como se aqui batesse O CORAÇÃO DE TODA A BEIRA BAIXA...."ou como muitas vezes Paulo Loução lhe chama :
"terra de Mistérios"...
P.S.- O trajo de "Arraiana " é colorido ; saiote de lã de cor viva ,plissado ,com listas pretas em baixo , formando uma barra ; na cintura a sacola de lentejoulas e bordados ,é usada do lado esquerdo e o avental preto bordado ; a blusa branca com rendas e bordados ; o xaile , normalmente de cor preta , é estampado ou bordado a fio de seda , com ramagens coloridas ; pode , no entanto, ter outra cor de acordo com a saia , cruza-se sobre o peito e , passando por baixo dos braços , ata-se atrás na cintura ; os sapatos são pretos ,as meias brancas e rendadas . Contrariamente ao que sucede noutras terras do concelho ,em Idanha -a-Nova não se usa , regra geral , lenço na cabeça e a blusa tem de ser sempre branca .
BEM-HAJAM todos pela vossa visita ..
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